Ministério da Saúde usa dados incompletos e desatualizados em boletins sobre covid-19

O banco de dados do Ministério da Saúde sobre internações por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) tem inconsistências nas informações.

Ministério da Saúde usa dados incompletos e desatualizados em boletins sobre covid-19
Hospital Regional da Asa Norte (HRAN) hospital referência para a covid-19 em Brasilia. Sérgio Lima/Poder360 22.06.2020

O banco de dados do Ministério da Saúde sobre internações por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) tem inconsistências nas informações, é incompleto e induz a erros. Usado como base dos boletins epidemiológicos sobre covid-19, ele não reflete o que acontece em relação às internações de Estados e municípios.

Das 50 páginas do último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, 13 são inteiramente dedicadas a tabelas, gráficos e tabulações de dados desse sistema. Ou seja, 1/4 do boletim se baseia em informações que são desprezadas como falhas pelas próprias secretarias estaduais de Saúde.

Muitos municípios, responsáveis por informar os casos de internação ao SUS, simplesmente deixaram de fazer as notificações, que são obrigatórias. É o que relatam secretários Estaduais de Saúde, responsáveis por supervisionar o processo.

OS ERROS

Na base de dados do SUS, em 81% dos casos de internação do Maranhão aparece como desfecho do caso a informação de “óbito” do paciente. São 1.438 internações por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) com sintomas de covid-19 e 1.160 mortes. Os dados são atualizados até 7 de julho.

Seria uma catástrofe no sistema de saúde do Estado. “Esse número está errado e não reflete o que acontece no Maranhão”, diz Carlos Lula, secretário da Saúde do Estado. Ele afirma que muitos municípios maranhenses deixaram de notificar as mortes para o sistema federal, que é de notificação obrigatória.

O governo do Maranhão enviou os dados mais recentes do Notifica Covid, sistema próprio do Estado. Nele, estão computadas 13.330 internações e 2.536 óbitos. Ou seja, a taxa de mortalidade entre internados cai para 19%.

E por que os municípios notificam para o sistema estadual e não para o Sivep Gripe, do SUS, de notificação obrigatória? Falta de integração entre diferentes bancos de dados do governo, quedas frequentes do sistema federal e falta de pessoal para os processos de notificação são algumas das razões listadas por eles.

De acordo com o secretário estadual, há a cobrança para que os municípios notifiquem ao menos os casos de internação que terminaram em morte. Por conta disso, as internações que tiveram alta não aparecem na proporção certa no sistema do Ministério da Saúde.

O erro não é exclusivo do Maranhão. O Espírito Santo também contesta as informações do sistema federal. De acordo com os dados divulgados pelo Ministério da Saúde, 68% dos internados do Estado com covid-19 evoluem para a morte. São 11.692 internações por SRAG com diagnóstico de covid-19, e com 1.155 óbitos. O Estado diz que seus dados mostram uma situação diferente: 19% de mortos entre os internados.

De acordo com o secretário de Saúde do Espírito Santo, Nésio Fernandes, também no Estado os municípios deixam de notificar internações ao banco de dados Sivep Gripe, do SUS, pelas mesmas razões apontadas pela Secretaria de Saúde do Maranhão.

ESTADOS COBRAM SAÚDE

Depois de contato da reportagem mostrando as inconsistências, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde enviou ofício na quarta-feira (15) ao ministro interino Eduardo Pazuello. Quer reunião técnica para cobrar a integração das bases de dados de internados por covid-19.

Secretários estaduais de Saúde ouvidos pela reportagem afirmam que há vários sistemas de notificação que não conversam entre si: Sivep-Gripe, sistema estadual (que em alguns casos é próprio e em outros está integrado ao Ministério da Saúde) e SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade), além dos cartórios.

Os dados públicos do Sivep mostram os internados com SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e covid-19, e são de preenchimento obrigatório. A razão é clara: doenças que podem dar em epidemia (não só a covid-19) precisam ser notificadas para que o governo federal consiga mapeá-las e traçar uma estratégia de controle para o país. Isso, porém, não acontece como deveria.

De acordo com eles, há planos desde o governo de Dilma Rousseff para integrar as bases de dados e não haver retrabalho nas notificações, mas o Ministério da Saúde nada fez nos últimos anos em relação a isso.

MAIS DE 1.000 MORTES

O Brasil ultrapassou a barreira de 1.000 mortes que realmente aconteceram num único dia, de acordo com o boletim do Ministério da Saúde. Foi em 14 de maio, com 1.009 óbitos. A data se mantém há 5 semanas como o pico da pandemia no Brasil.

O fato de só ser possível saber desse fato 2 meses depois mostra como a notificação de casos de mortes é falha no país. Essas informações sobre a data de ocorrência são retiradas do Sivep Gripe, o mesmo sistema no qual os municípios não estão fazendo as notificações de internações corretamente.

 

*Com informações do Poder 360*