A série “50 anos do Tri” relembra, em crônicas e reportagens, a conquista da Copa do Mundo de 1970 pela Seleção Brasileira. Serão várias publicações ao longo do mês de junho, que marca o aniversário do terceiro título mundial do Brasil.
O confronto entre Brasil e Peru, nas quartas de final da Copa do Mundo de 1970, reservou um reencontro muito especial para dois integrantes da Seleção Brasileira. Pelé e o técnico Zagallo estariam do lado oposto de Didi, companheiro de ambos nas conquistas do Mundiais de 1958, na Suécia, e 1962, no Chile.
Um dos maiores jogadores da história do futebol brasileiro, o gênio da “folha seca” era o treinador do Peru na Copa do México. Seus comandados exibiam um futebol com beleza, coragem e estilo. Claramente, havia a assinatura de Didi naquela equipe. Ou melhor, de Waldir Pereira, já que os peruanos preferiam chamá-lo pelo nome de batismo. Didi assumiu o comando da equipe peruana ainda durante as Eliminatórias, ajudando o país a conquistar sua primeira classificação para o Mundial desde 1930.
Para o craque Teófilo Cubillas, que floresceu sob a batuta de Didi, os resultados da equipe têm todos os dedos do trabalho do comandante.
– Waldir foi como um segundo pai para mim. Desde que chegou e fez a lista da equipe peruana para o Mundial, sempre ouvi muito os seus conselhos, me ajudava bastante. Era uma pessoa com uma grande experiência. Quando conseguimos a vaga na Copa foi por mérito de todos, mas também por termos uma boa estratégia traçada por um grande treinador – lembrou.
A primeira experiência de Didi como treinador se deu justamente no Peru. Um ano após a conquista do bicampeonato mundial em 62, ele assinou contrato com o Sporting Cristal, de Lima. Durante sua passagem pelo clube, chegou a atuar como jogador e técnico ao mesmo tempo. Ele ainda voltaria ao Botafogo e passaria pelo México antes de se aposentar no São Paulo, em 1966.
Depois que pendurou as chuteiras, Didi recebeu o convite do Sporting Cristal para, dessa vez, atuar apenas como técnico. No comando da equipe, conquistou o Campeonato Peruano de 1968 e ganhou a oportunidade de treinar a seleção do país no ano seguinte.
Sob o comando de Didi, o Peru chegou à Copa e fez bonito. Na fase de grupos, derrotou Bulgária e Marrocos. Na rodada final, o confronto contra a Alemanha Ocidental definiria se os peruanos enfrentariam o Brasil ou não nas quartas. A tarde inspirada de Gerd Muller, que marcou três vezes, foi demais para a Alvirrubra, que acabou derrotada por 3 a 1. O que colocou o Peru no caminho da Seleção Brasileira, para infelicidade de Didi e dos peruanos.
– Para esse jogo das Quartas de Final ele sabia que o Peru também jogava de forma ofensiva, parecido com o Brasil. Mas era difícil marcar os quatro camisas 10. A nossa ideia era enfrentar outra equipe. Queríamos ganhar da Alemanha na última rodada da fase de grupos que o cruzamento fosse outro. Mas perdemos por 3 a 1 e nos restou o Brasil – frisou Cubillas.
O Peru não fez um jogo retrancado contra o Brasil. Jogou como vinha atuando em toda a Copa e o resultado foi um embate franco no Jalisco, em Guadalajara. No fim, a Seleção Brasileira venceu por 4 a 2, com gols de Jairzinho, Tostão (2) e Rivellino. Os peruanos, por sua vez, foram os que mais marcaram gols no Brasil em 1970 (apenas a Romênia conseguiu fazer dois gols na Seleção).
Mas além do placar, fica a lição dada por Didi. Perder ou ganhar, mas jogando bonito. Como sempre foi com ele em campo e fora dele também. Isso, brasileiros e peruanos sabem muito bem.