Vídeo: Médica usa fralda em hospital por medo de contágio e falta de EPI

O relato foi anexado a uma ação civil pública movida pelo MPT-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), que exige uma série de melhorias no hospital.

Foto: Divulgação

Em Wuhan, na China, primeiro epicentro do novo coronavírus, profissionais da saúde chegaram a usar fraldas para otimizar o tempo de atendimento aos pacientes com covid-19. Uma médica do Hospital Municipal Miguel Couto, no Leblon, zona sul do Rio, adotou a mesma prática, mas por outro motivo: medo de contrair o vírus ao retirar o traje de proteção para ir ao banheiro, já que cada profissional recebe por plantão apenas um capote de tecido —o número e o tipo não são os ideais.

O recomendado é ter à disposição por plantão ao menos dois trajes descartáveis e um impermeável, para quando houver contato com pacientes. O temor se agrava em meio a denúncias de problemas de isolamento na unidade de saúde, o que amplia o risco de contaminação. O relato foi anexado a uma ação civil pública movida pelo MPT-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), que exige uma série de melhorias no hospital.

um vídeo mostra o risco de contágio em uma ala de pacientes com covid-19 no Miguel Couto. Desde o começo da pandemia, três profissionais de saúde do hospital morreram após serem infectados.

 

O traje de proteção usado pela médica é chamado de capote, uma espécie de roupão para proteger a profissional. Mas o equipamento na unidade é o de tecido —especialistas recomendam o uso do capote impermeável para minimizar os riscos de contágio em meio à pandemia. Segundo a ação do MPT-RJ, cada profissional recebe apenas um traje por plantão.

“Esse tipo de capote é uma fonte de contaminação. Os profissionais de saúde precisam ter cuidado para não se infectar. Essa médica decidiu trabalhar de fralda por seis horas, para não precisar ir ao banheiro. É um cenário de degradação”.

O infectologista Marcos Lago, coordenador de infecção do Hospital Universitário Pedro Ernesto, no Rio, diz que os capotes de tecido não são recomendados para ambiente hospitalar. “Se espirrar, as gotículas grudam no tecido e podem contaminar o profissional. Ele não pode ficar exposto”, explica.

Segundo Lago, o ideal é que os profissionais de saúde usem equipamentos descartáveis. Ele também diz que é indispensável o acesso a um traje com maior proteção quando os profissionais estiverem em contato com pacientes.

“O profissional deve ter, no mínimo, dois capotes descartáveis por plantão, para o dia a dia, com uma gramatura [espessura do equipamento] mínima em área de covid, seguindo as recomendações do Ministério da Saúde. Mas é preciso ter outro capote para colocar por cima quando houver o contato com o paciente”, orienta o infectologista.

Lago diz que esse capote para proteção no contato com o paciente pode ser o impermeável ou até mesmo o hidrofóbico, que também protege o profissional contra gotículas. “Quando o profissional for examinar o paciente no leito, é preciso usar um capote de pano grosso e cirúrgico por cima, para protegê-lo contra fluídos”.

Lago também concorda com a necessidade de uma capacitação para lidar com os EPIs (equipamentos de proteção individual), minimizando os riscos. “É uma questão de gestão pública. Há muitos profissionais treinados para dar cursos desse tipo“, diz.