A exoneração de Abraham Weintraub do Ministério da Educação foi oficializada pelo presidente Jair Bolsonaro no dia 20 de junho. No dia 25, Carlos Alberto Decotelli foi nomeado para o cargo, mas o reinado durou pouco, pois fraudes foram descobertas no currículo do professor. Ele havia mentido, por exemplo, sobre ter feito doutorado em uma universidade argentina e pós-doutorado em uma universidade alemã. Daí surgiu o nome de Renato Feder, que foi logo descartado. Depois de tanto entra e sai, na última sexta-feira, 10, o novo ministro da Educação, Milton Ribeiro, foi finalmente anunciado e agora, aparentemente, para valer. Ou não?
Aos 62 anos, Milton é advogado, teólogo, pastor da Igreja Presbiteriana e foi reitor da renomada Universidade Mackenzie, em São Paulo. Com a nomeação, algumas polêmicas envolvendo o nome do novo ministro já vieram à tona. Em vídeos antigos, Ribeiro aparece pregando durante cultos sobre como as novas universidades ensinam “sexo sem limites”, dizendo que autor de feminicídio confundiu paixão com amor e defendendo o castigo físico para educar crianças.
“Não importa se é A ou B, se é homem ou mulher”
Em 2018, o atual ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse que essa nova linha existencialista ensinada em universidades incentiva a “prática totalmente sem limites do sexo”.
A frase foi dita durante um culto, onde ele também culpou indiretamente os métodos contraceptivos, como a pílula anticoncepcional e o próprio preservativo, pela, segundo ele, nova conduta sexual. “O mundo foi perdendo a referência do que é certo e errado(…) E isso foi trazendo muitas dificuldades, porque agora a gravidez indesejada não é mais um risco“, falou. Vale esclarecer que o preservativo é um método contraceptivo que não protege a jovem apenas de uma gravidez indesejada, mas de infecções sexualmente transmissíveis e doenças.
O vídeo, postado no canal Meditando na Sã Doutrina, foi apagado depois de viralizar.
“Essa ideia que muitos têm de que a criança é inocente é relativa”
Em 2019 metade das casas tinham uma mulher como "chefe da família" e o pastor Milton Ribeiro ainda acredita que o homem deve impor uma direção.
Esse é o pensamento do novo ministro da educação.
O MEC está agora nas mãos de fundamentalistas religiosos. #ForaBolsonaro pic.twitter.com/9caHNXG5K1— Vivi Mendes (@vivimendes_sp) July 10, 2020
Dois anos antes, em 2016, Milton havia pregado um sermão religioso defendendo o castigo físico no processo de educação de crianças. Para isso, ele usou como referência um versículo de Provérbios 19:18, que diz: “Castiga o teu filho enquanto há esperança, mas não te excedas a ponto de matá-lo”.
Na sequência, ele explica que não está incentivando o “espancamento infantil”, mas que “a vara da disciplina não pode ser afastada da nossa casa”. O pastor também deu a seguinte declaração durante o culto: “Deve haver rigor, desculpe, severidade. E vou dar um passo a mais, talvez algumas mães até fiquem com raiva de mim: [crianças] devem sentir dor”, afirmou.
As falas não foram bem recebidas na internet e algumas pessoas chegaram a lamentar o fato de que o MEC está agora nas mãos de fundamentalistas religiosos. Milton Ribeiro também culpou a falta do pai em casa dizendo que, “quando o homem não impõe a direção que a família vai tomar”, a coisa desanda, pois, segundo a Bíblia, o homem é a “cabeça do lar, que aponta o caminho que a família vai”.
Em publicação no Instagram, a apresentadora Xuxa Meneghel criticou as falas do atual ministro: “Se educação tem a ver com rigor, com dor, as cadeias estariam cheias de gênios. Alguém, por favor, me diga que eu entendi errado, que nós mães, mulheres, filhas, seres humanos, demoramos para descobrir que, para educar, não se deve usar a dor e sim a educação, o exemplo, a conversa, o amor”, falou.
“Pode ter dados sinais a ele de que estava apaixonada”
Em 2013, num programa intitulado Ação e Reação, o atual ministro da Educação protagonizou mais uma polêmica ao culpar a vítima pelo feminicídio sofrido e a televisão, que, de acordo com ele, promove a erotização precoce.
O caso discutido pelo pastor era o de uma garota de 17 anos que foi morta dentro da escola por um homem de 33, que queria namorá-la. “Ela pode ter dados sinais a ele de que estava apaixonada ou coisa do tipo, e que ela aprendeu, está acostumada a passar, e o cara entendeu assim. Só que não era nada daquilo. E a criança pode fazer isso. E o cara, o pedófilo, está pensando que a criança está querendo alguma coisa com ele, mas o que ela está fazendo é uma replicação daquilo que ela vê de maneira indevida na tevê aberta”, opinou.
Milton Ribeiro também mostrou que é do time daqueles que acham que feminicídios ainda podem ser chamados de crimes passionais – como muito acontecida antigamente, nos anos 50 e 60. “Acho que esse homem foi acometido de uma loucura mesmo e confundiu paixão com amor. São coisas totalmente diferentes. Ele, naturalmente movido por paixão, paixão é louca mesmo, ele então entrou, cometeu esse ato louco, marcando a vida dele, marcando a vida de toda família”, falou.
Essas falas são frequentemente ditas por aqueles que romantizam questões como o feminicídio e compactuam com a cultura do estupro, tentando justificar crimes contra a mulher jogando a culpa em cima da vítima, não do assassino.
Até o momento, o ministro Milton Ribeiro não se pronunciou sobre nenhum dos casos.
*Com informações da Capricho*